No artigo anterior, constatamos que existe uma
fauna auxiliar bastante diversificada, que não pertence à classe dos
artrópodes.
Vamos então saber um pouco mais sobre os répteis e anfíbios, cujo papel na horta e jardim é bastante subestimado pela
maioria dos agricultores e técnicos.
Embora a mais valia destes animais seja
reconhecida há muito tempo na limitação natural de pragas:
- em 1919, Pereira Coutinho salientava a importância de os “camponeses pouparem e não atormentarem o sapo”;
- João Salema em 1926, referia as sardaniscas, os sardões, as osgas, o licranço, a rela, as rãs, os sapos, as salamandras, como “úteis e amigos dos lavradores”;
- em 1930, Eduardo Almeida indicava também a utilidade destes animais, designadamente “das sardaniscas” entre outros;
continuam associados em pleno século XXI a
inúmeros mitos e crenças completamente falsos(as).
Quem
são, onde vivem, como ajudam?
Veja alguns
exemplos interessantes…
Répteis
Nome
vulgar
|
Nome
científico
|
Descrição
|
Habitat
|
Atividade
auxiliar
|
Como
os manter na horta
|
Licranço
|
Anguis
fragilis
|
Carateriza-se por ser desprovido de membros,
parecendo uma cobra, embora as suas escamas sejam diferentes.
Atividade: de Março-Abril a Outubro-Novembro
|
Regiões húmidas, prados, terrenos de cultivo
(ex: pomares de macieira e vinhas).
|
Alimenta-se de caracóis, lesmas e de alguns
insetos.
|
Fazer empalhamento dos pomares.
Manter manchas florestais de flora autóctone
e diversificada.
|
Cobra-de-ferradura
|
Coluber
hippocrepis
|
Robusta, mede entre 80 a 150cm de comprimento
total. Cabeça pequena e larga, bem destacada do resto do corpo. Dorso com
grandes manchas escuras de forma arredondada ou elítica, sobre uma coloração
de fundo esbranquiçada, amarelada ou acinzentada.
Está ativa todo o ano nas regiões mais
quentes.
Nas zonas mais frias está inativa entre
Novembro e Março.
|
Encontra-se em zonas de cultivo como olivais
e vinhas, terrenos em pousio ou incultos, muros de pedra, ruínas, …
|
Alimenta-se de micromamíferos, como os ratos.
|
Manter muros de pedra.
|
Sardão
|
Lacerta
lepida
|
Os maiores exemplares podem atingir cerca de
1m.
Ativo entre Março-Outubro. Mas nos meses de
verão, permanece inativo nas horas mais quentes do dia.
|
Aparece em vinhas e olivais, charnecas e
matagais.
|
Alimenta-se de escaravelhos, gafanhotos e
pequenos mamíferos.
|
Manter muros de pedra solta.
|
Osga-comum
|
Tarentola
mauritanica
|
Tem aspeto robusto, mede entre 150 e 190cm no
total.
|
Encontra-se tanto em zonas urbanas como
rurais. Ocorre em locais rochosos, pedregosos, muros, paredes, habitações,
armazéns agrícolas e troncos de árvores.
|
Alimenta-se de insetos de várias ordens –
himenópteros, coleópteros, dípteros e lepidópteros.
|
Manter muros velhos de pedra solta e armazéns
com paredes de pedra.
|
Cágado-comum
|
Mauremys
leprosa
|
Apresenta uma carapaça de cor
cinzenta-esverdeada ou castanha, com manchas claras e difusas, com uma quilha
médio-dorsal.
Tem hábitos diurnos. Nas zonas mais frias
pode hibernar. Nas regiões mais quentes pode apresentar períodos de
estivação, durante os quais se enterra no fundo de massas de água onde vive.
|
Aparece em
ribeiros de montanha de fundo rochoso, ribeiros temporários de fundo
arenoso, tanques, lagoas, canais de irrigação, barragens e até locais
costeiros de elevada salinidade.
|
Alimenta-se de insetos e moluscos.
|
Conservação dos seus habitats.
Denúncia e não captura (é uma espécie incluída
no Anexo II da Convenção de Berna).
|
Anfíbios
Nome
vulgar
|
Nome
científico
|
Descrição
|
Habitat
|
Atividade
auxiliar
|
Como
os manter na horta
|
Sapo-comum
|
Bufo
bufo
|
É o maior e mais robusto sapo da fauna
portuguesa. Mede em geral entre 20 e 150mm de comprimento, embora as fêmeas
possam atingir os 220mm. Apresenta cor variável, entre cinzento acastanhado e
vermelho acastanhado.
De dia refugia-se em muros de pedra, entre a
vegetação ou no solo.
Essencialmente ativo ao crepúsculo e à noite.
|
Tem hábitos terrestres, frequenta hortas,
jardins e pomares de macieira.
|
Alimenta-se de insetos e pequenos roedores.
|
Manter vegetação herbácea e arbustiva, bem
como muros e construções de pedra (não cimentadas).
Fazer canais de irrigação com uma inclinação
que permita que a espécie suba as paredes dos canais.
Colocação de pedaços de cortiça em valas e
canais de irrigação, para que os sapos mais facilmente as(os) transponham.
|
Rã-verde
|
Rana
perezi
|
Rã de grande tamanho que pode atingir entre
os 75 e os 100mm de comprimento. Coloração dorsal de fundo geralmente verde.
|
Vive em charcos, presas e levadas de água,
pântanos, lameiros, tanques de rega, lagos, lagoas, barragens, açudes, ribeiras,
…
|
Espécie muito voraz que se alimenta
principalmente de insetos de várias ordens, caracóis, lesmas e até pequenos
roedores.
|
Manutenção dos habitats.
Denúncia e não captura (é uma espécie
incluída no Anexo II da Convenção de Berna).
|
Rela
|
Hyla
arborea
|
Tem pequeno tamanho – entre 35 e 50mm de
comprimento. A coloração dorsal pode variar consoante o substrato onde se
encontra, a temperatura e a humidade, mas vai desde o verde intenso ao verde
claro, mais raramente ao castanho ou amarelo.
Durante o dia expõe-se ao sol sobre arbustos,
canas, juncos, silvas, … próximo de zonas de água. Mas tem predominantemente
hábitos crepusculares e noturnos.
|
Encontra-se em charcos, pântanos, lagos,
lagoas, …
Possui capacidade de trepar devido aos discos
adesivos nas extremidades dos dedos.
|
Alimenta-se de insetos de várias ordens.
|
Manter arbustos nos limites de terrenos de
cultivo.
|
Salamandra-de-pintas-amarelas
|
Salamandra
salamandra
|
Tem tamanho médio, com um comprimento entre
140 e 170mm, podendo atingir os 220mm. Coloração dorsal negra com pintas
amarelas que a torna inconfundível.
Tem hábitos noturnos, é sedentária e
totalmente terrestre, procurando meios aquáticos de águas limpas e correntes,
apenas para se reproduzir.
Nas regiões mais elevadas, pode ficar inativa
nos meses mais frios.
|
Prefere zonas montanhosas, húmidas e
sombrias, com elevada precipitação anual, como bosques de caducifólias, junto
a ribeiros e charcos. Vive também em lameiros, prados e campos de milho ou
batata, pinhais, azinhais ou sobreirais.
|
Alimenta-se essencialmente de escaravelhos,
formigas, caracóis e lesmas.
|
Disponibilizar habitats de reprodução e/ou de
inativação.
|
Agora que já sabe um pouco mais, partilhe o seu
conhecimento e tire as suas dúvidas com o fórum de agricultores, técnicos e
académicos, através da aplicação para telemóveis OpenPD que apoia a identificação de pragas e doenças das plantas.
Fontes:
https://goo.gl/FcdPMA
(cobra de ferradura)
https://goo.gl/nJVUNM
(osga-comum)
https://goo.gl/VrbXaW
(cágado-comum)
https://goo.gl/fXP904
(rela)
https://goo.gl/BlgiqR
(salamandra-com-pintas-amarelas)
As
bases da Agricultura Biológica; Tomo I – Produção Vegetal; Jorge Ferreira
(Coordenador); Edibio, Edições Lda. (2009)
0 comentários :
Publicar um comentário